André Breton no Mercado de Pulgas em Paris em busca de seus Objets Trouvés.
A
pesquisa monográfica que estou desenvolvendo, engloba a ideia do Cotidiano Compartido e aborda, além de
reflexão teórica sobre esta ação, a problemática dos objetos em
relação a arte (em outras palavras, sobre o que faz com que um objeto
comum seja transposto para categoria de objeto artístico). Um dos
tópicos abordados na monografia é a influência dos Movimentos Dadaístas e Surrealistas no desenvolvimento deste pensamento. São eles que ao tomarem o objeto
funcional como objeto artístico, abrem o debate sobre os objetos
domésticos x objetos de arte. A a apropriação de objetos funcionais,
banais, industrializados impôs ao conceito de arte uma redefinição - até então
era aceitável pensar a obra de arte pertencendo às categorias pintura e
escultura - assim, dadaístas e surrealistas, encarnavam o rompimento da
fronteira entre vida cotidiana e arte.
A prática do
acaso se verifica nos passeios que fazia André
Breton especialmente ao marché aux puces, o mercado de pulgas de Paris. Essa prática conta com a errância urbana e alude ao
conceito de flâneurs construído por Baudelaire. O acaso inspirava o jogo e nesse devir interessava todo tipo de
objetos surpreendentes que se podia encontrar em qualquer lugar. Assim surgiu
um universo amplo e poético de trabalhos realizados com objetos, nomeados
como objets trouvés, objets démodés, objets invisibles, ready-mades de Duchamp, objets surrealistes e ainda outros.
Poema Objeto, André Breton (1896-1966)
Os passeios de André Breton ao marché aux puces tinham muitas vezes como
único fim a descoberta de objetos que ocasionasse a “atração do nunca visto” e
podiam provocar o impulso de comprá-lo ou de simplesmente parar diante dele num
ímpeto passional. Esses objetos obsoletos, fragmentados, inutilizáveis, quase
incompreensíveis, perversos, que André Breton amava (Blanchot. 2011. p 283), podiam fornecer soluções a um
problema artístico Inclusive com a intenção de
questionar conceitos estabelecidos a respeito do belo e do apropriado. Assim, a máscara de esgrima
encontrada por Giacometti no mercado de pulgas serviu para dar acabamento a uma
escultura que até então estava incompleta. O encontro aparentemente ocasional com um objeto
desses podia produzir um processo que revelaria associações ou soluções
estéticas não previstas para processos criativos que estariam travados.
Minha pesquisa com objetos do cotidiano não começou agora. Sempre
tive uma certa candura por objetos esquisitos. Coleciono desde menina objetos
diversos e algumas vezes estranhos, numa espécie de de Gabinete de Curiosidades
que inicialmente só faz sentido para mim enquanto artista.
Percebo que na minha poética algumas semelhanças com os
procedimentos de Breton em busca de seus objetos encontrados, tem muito dos
jogos e do exercício do devir em caminhadas que faço em busca de fragmentos do
acaso que trago para meus trabalhos.
A
Casa do Rinoceronte é um destes trabalhos que realizei quando estudava a
Poética do Espaço de Gaston Bachelard, nas aulas do Mathias Monteiro (meu atual
orientador da monografia).
Casa do Rinoceronte.
Casa do Rinoceronte.
Michelle Cunha
Objeto
10 x 12 cm aproximadamente
2009
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